O day trade é, sem dúvida, uma das práticas mais controversas do mercado financeiro. A promessa de lucro rápido atrai milhares de brasileiros todos os anos, mas a realidade dessa operação é muito diferente do que muitos imaginam.
Para quem ainda se pergunta o que é day trade, trata-se da compra e venda de ativos no mesmo dia, com o objetivo de lucrar a partir das oscilações de preço. O problema? Os dados mostram que a imensa maioria dos investidores perde dinheiro rápido.
O que os números realmente mostram sobre o day trade
Uma pesquisa conduzida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a pedido da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), analisou mais de 98 mil investidores que iniciaram operações de day trade com ações no Brasil entre 2013 e 2016. O estudo acompanhou os resultados dessas pessoas até 2018 e revelou números alarmantes: 99,4% desistiram da prática antes de completarem 300 pregões.
Dos poucos que persistiram, os resultados também foram desanimadores. Apenas 0,12% conseguiram um lucro bruto médio acima de R$ 100 por dia. E mesmo entre os mais experientes, a média de ganhos ficou abaixo de zero. Considerando um período de “aprendizado” (os primeiros 200 pregões), os resultados não melhoraram: a média foi de R$ 91 negativos por dia.
Além disso, um segundo estudo da mesma FGV, focado em minicontratos de índice e dólar (ativos de altíssimo risco, populares entre day traders), analisou 19.646 pessoas. Apenas 3% conseguiram lucro após mais de 300 pregões. Dentro desse grupo seleto, 2,6% ganharam menos de R$ 300 por dia, valor inferior à renda de muitas profissões consideradas de entrada, como motoristas de aplicativo ou caixas de banco.
Day trade é técnica ou sorte?
Uma das conclusões mais fortes do estudo é que, ao contrário de outras atividades profissionais, os resultados no day trade não melhoram com o tempo. Pelo contrário: a tendência é que o desempenho piore à medida que a pessoa insiste.
Os pesquisadores da FGV comparam o day trade a um jogo de cassino. Nas palavras do economista Bruno Giovannetti: “É muito mais parecido com cassino, em que, à medida que a pessoa vai repetindo as jogadas, a chance de continuar acertando diminui”.
Isso acontece porque o pequeno investidor compete diretamente com algoritmos de alta frequência operados por grandes instituições financeiras. Esses sistemas têm acesso mais rápido às informações, executam ordens em milissegundos e estão instalados fisicamente dentro da B3, algo impossível de igualar com um computador pessoal e uma conexão de internet doméstica.
Além disso, a tomada de decisão no day trade geralmente se baseia em dados de curtíssimo prazo, como o movimento intradiário do Ibovespa, que tem pouca ou nenhuma capacidade preditiva. É como tentar prever o futuro observando apenas o passado recente, uma estratégia frágil e estatisticamente desfavorável.
O perfil do day trader que perde (e o que ganha)
O estudo da FGV revela um recorte interessante do perfil dos investidores que mais operam no day trade. Entre os mais ativos, aqueles que fizeram operações por mais de 300 dias úteis, 97% perderam dinheiro.
E mesmo os que ganharam, não garantiram estabilidade. A média de ganho entre os melhores colocados foi de R$ 1.000 por dia. No entanto, essa média escondia uma volatilidade enorme: em alguns dias o investidor ganhava R$ 11 mil, em outros perdia R$ 10 mil. Isso torna impossível uma previsibilidade ou segurança mínima de renda.
Por outro lado, o trader que mais perdeu no estudo teve uma média negativa de R$ 13 mil por dia.
Esse panorama mostra que mesmo entre os que persistem e se dedicam exclusivamente à atividade, o risco e a inconsistência permanecem. São características que tornam o day trade uma escolha extremamente frágil como fonte de renda principal.
Por que tantas pessoas continuam tentando?
Apesar dos dados alarmantes, o número de brasileiros interessados em day trade cresceu exponencialmente entre 2017 e 2019. Parte dessa popularização pode ser atribuída à massiva oferta de cursos, lives e conteúdos vendendo a ideia de que é possível viver de mercado.
A promessa de liberdade financeira, de trabalhar de qualquer lugar e fazer dinheiro em poucos minutos cria uma narrativa sedutora. Mas essa história raramente é contada com base em estatísticas reais, e sim em casos isolados, muitas vezes sem comprovação.
A verdade é que os principais beneficiados com esse movimento são justamente os vendedores de cursos, plataformas e ferramentas. Enquanto o investidor pessoa física arrisca o próprio patrimônio, muitos produtores de conteúdo lucram com promessas vazias.
É possível fazer day trade com responsabilidade?
O estudo da FGV não diz que é proibido operar day trade. O que ele demonstra é que usar o day trade como fonte principal de renda é estatisticamente insustentável.
Se o investidor entende isso e encara a prática como um hobby ou um exercício de aprendizado sobre o mercado, os riscos são menores. Como qualquer jogo, ele deve ser praticado com moderação e limites claros.
Algumas dicas para quem ainda assim deseja experimentar:
Defina um capital específico para isso e nunca misture com a reserva de emergência
Estude não só técnicas, mas também estatísticas e vieses comportamentais
Avalie continuamente o impacto emocional das perdas
Nunca invista dinheiro que você não pode perder
Não confie cegamente em gurus de internet
Busque estratégias mais consistentes de investimento
O mercado financeiro oferece muitas alternativas de investimento com risco calculado e estratégia de longo prazo. Ao invés de buscar ganhos rápidos e incertos, o ideal é construir um plano financeiro robusto, com alocação inteligente entre ativos nacionais e internacionais, considerando diferentes cenários econômicos e ciclos de vida.
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